16/07/2010

Literatura Africana

LITERATURAS AFRICANAS DE EXPRESSÃO PORTUGUESA

Introdução



As aventuras navais dos portugueses do século XV espalharam o idioma por quatro continentes, entre eles o africano, um continente marcado historicamente pela disputa entre tribos rivais, esta eterna discórdia interna fez da áfrica uma “colcha de retalhos” criando países pobres e de pouca representatividade no mundo moderno. Nos países em que Portugal, como colonizador, explorou por algum tempo, levando muitas de suas riquezas, deixou, mesmo que sem querer uma herança que “conecta” mais de 35 milhões de habitantes africanos à oitava língua mais falada no mundo: o português. Neste trabalho mostrarei um pouco da literatura em língua portuguesa em dois destes países, Angola e Moçambique.

AFIRMAÇÃO DA LITERATURA AFRICANA DE EXPRESSÃO PORTUGUESA

ANGOLA



Angola é um jovem país de 34 anos, é também o segundo maior falante de língua portuguesa no mundo, tem sua historia marcada por momentos de repressão e por um período de colonialismo extensamente longo, só possível de acontecer graças ao incrível índice de analfabetismo, herdado do colonialismo português. Sua literatura em língua portuguesa passou por períodos de pouca criatividade, devido a falta de pessoas escolarizadas e capazes de criar um literatura atuante (97% da população analfabeta) até que em 1948 alguns dos 3% da população alfabetizada resolveram voltar seus olhos e sua atenção ao maior país africano de língua portuguesa e lançaram em Luanda, capital do país, o brado “vamos descobrir Angola”.

Este “brado”, pode ser visto como o choro de um bebé ao nascer, no caso nasceu a literatura de um país, e os pais e mães eram os membros do Movimento dos Novos intelectuais de Angola que em 1950 “registram” definitivamente a certidão de nascimento desta literatura com a publicação de “antologia dos novos poetas de Angola”.

Em 1951 a Associação dos naturais de Angola, (ANAGOLA, em língua quibunda, “Filhos de Angola”) que provavelmente teve como membros muitos dos ‘novos intelectuais’ lança a revista Mensagem que dura até 1952 com apenas 4 exemplares, numero suficiente para criar um clima propício ao desenvolvimento da literatura Angola. Em 1957 este mesmo grupo lança outra revista, agora com o nome Cultura, mantém os mesmos ideais da anterior e revela poetas significativos para mostrar a angolanidade, natural do povo e até então distante de sua criação literária.

Toda esta efervescência culminou na criação do MPLA, movimento popular de libertação de Angola, que foi decisivo na independência do país.

Este momento cultural angolano influenciado pelo momento histórico é marcado pela descoberta do sentido de ser do povo angolano, que passa a sua valorização e exaltação, com o movimento negritude e culmina nos temas ligados a exploração econômica, repressão policial o que leva o africano a pegar em armas e lutar pela independência. Todos este processo dura em torno de 12 anos de a948 a 1960, quando então começa um novo momento na literatura de Angola.

Começa a luta armada em 1961 e a revista Cultura esta em plena ação, animando os guerrilheiros com sua temática nacionalista o que faz a repressão portuguesa do ditador Salazar endurecer ainda mais, culminando com o encerramento das atividades da revista, junto com ela o governo colonial português fechou tudo que pudesse distribuir ideais de independência angolana.

Porem estes fechamentos não conseguem matar a literatura de angola que resiste e se fortalece através de autores como Luandino Vieira e de obras como “Luanda e nós” e “Makulusu. O poeta escreve até certo tempo em português europeu, formal e culto, a parti de 1962 provavelmente como forma de mostrar que Angola não era só o que os colonizadores trouxeram em forma de cultura ele mistura os sentidos do português padrão com a língua quibunda, existente em angola há séculos e cria neologismos e gírias que são marcas da angolanização do português e provas da cultura do homem africano.

Entre os intelectuais africanos que mudaram a maneira de se entender o conceito de nação e foram decisivos na criação não só de uma nova literatura para o país, mas também para sua independência se destaca o poeta Agostinho Neto. Autor de “Sagrada Esperança”, obra que os historiadores comparam ao clássico “os Lusíadas”, de Camões (com ressalvas temporais, espaciais, culturais), Neto de forma épica, mostra toda a alienação social, cultural e política vivida pelo negro, exibe de forma clara a exploração econômica, a repressão policial, a prostituição, o alcoolismo, o analfabetismo e a miséria a qual é submetida toda uma população apenas por diferença de cor. Ele exalta a solidariedade, o trabalho a esperança e o amor como combustíveis que proporcionarão a este mesmo povo a força capaz de criar a revolução que levará o povo angolano a sua verdadeira identidade, a identidade de um povo livre.



Sua obra é dividida em três fases, a primeira tem momentos neo realistas e de valorização do povo negro (negritude) e vai de 1945 a1949. A segunda que dura de 1949 a 1955 ainda tem poucos momentos neo realistas, mas sua maior parte é totalmente dedicada a valorização do ser humano negro, em angola, na áfrica e em todo o mundo, dando especial atenção a solidariedade negra, mostrando que a cultura tribal africana de um negro lutar contra o outro sempre foi um grande erro. A última fase deste inesquecível poeta é marcada pela sua prisão, ele a usa como forma de inspiração e produz obras que incitam a liberdade e a independência do país, convocam os angolanos a lutarem a combaterem a ganharem a liberdade com as próprias forças.

Seu empenho é recompensado, o país liberta-se e ele torna-se merecidamente o seu primeiro presidente.





MOÇAMBIQUE



Embora separado de Angola territorialmente, Moçambique compartilha com o vizinho o fato de ter como idioma oficial a língua portuguesa, este país africano fica na costa oriental da áfrica austral e devido a sua formação geográfica faz fronteiras com muitos outros países, o que possibilita uma grande interação com muitos povos africanos. Sua literatura de língua portuguesa se mostra mais fértil nas décadas de 40 a 50 onde são publicados grande quantidade de textos em livros e jornais, todo este momentos é fruto da recente instalação da imprensa com a revista msaho e o jornal paralelo 20, ambos serviçais divulgadores das idéias anti-coloniais.

Com o fim da II grande guerra a literatura moçambicana adquire maturidade, os anos entre 1945 a 1952 foram decisivos para o inicio deste grau de qualidade. Uma característica forte é o segregacionismo moçambicano que extrapola de vez a razoabilidade separando de forma veemente todas as raças, forçando-os a formarem grupos separados. Como reação a esta visão ultrapassada do mundo, escritores e intelectuais formam grupos que a partir dos primeiros anos de 1950 publicam seleções a antologias com as idéias da negritude, pregando uma maior identidade nacional, sem distinguir raças, todos são moçambicanos. Junto a isso textos ligados ao neo realismo denunciam a péssima condição humana no país e funcionam como referencia para a conscientização da população.



Em 1964 inicia-se a fase de exortação a luta armada para a independência do país, a temática glorifica a revolução e serve como base para textos anti-colonialistas. Na narrativa surge “nós matamos o cão-tinhoso” de Luis Bernardo Honwana que mostra de forma alegórica uma vitoria imposta ao colonizador pelos negros livres e capazes de dominar seu território.

Guilherme de Melo com raízes do ódio de 1963 e Orlando Mendes com Portagem de 1966 inauguram o romance moçambicano. Nesta partida impetuosa da literatura acontecem três vertentes importantes. A primeira é formada por escritores como José Craverinha, Orlando Mendes, Rui Nogar e Luís Bernardo Honwana e tem como herança um nacionalismo resultante de tendências de incorporação do pan-africanismo, com experiências neo realistas e negritudistas. São textos publicados de forma restrita em pequenos ghettos intelectuais.

A segunda, também publicada para um pequeno publico, tem como diferença fundamental o conteúdo que é basicamente inspirado nas grandes obras universais que vêem desde as antiguidades clássicas até a exaltação da cultura ocidental européia, seus nomes mais destacados são Rui Knopfli, Eu gênio Lisboa, João Pedro, Grabato Dias e Maria de Lourdes Cortaz.

A terceira vertente tem maior liberdade de publicação, esta quer atingir e chegar ao povo para incentivá-los a luta armada pela independência, é a temática de guerrilha que em forma de poesia espalha-se pelo povo. Aqueles que não sabem ler, ouve seus versos e saem cantando de armas nas mãos.



Já em 1971 surgem a revista Caliban que traz textos de excelente qualidade, este momento também é marcado pela volta de escritores, na maioria brancos que haviam saído da colônia, o que geral uma enorme leva de intelectuais que estão ligados a Moçambique mas também estão ligados também a Portugal pelo contato intenso entre pensamentos pro e anti coloniais, se encaixam neste momento nomes como os de Rui Knopfli, Glória de Sant’Anna, Guilherme de Melo, Jorge Viegas. Outros assumem sem reservas a cidadania moçambicana, como Mia Couto,

Heliodoro Baptista e Leite de Vasconcelos

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Entre 1975 e 1992 acontece o fortalecimento da literatura moçambicana com a publicação de textos que estavam guardados, seja por motivos de repressão do colonizador, ou por falta de oportunidade de fazê-lo. Este processo consolida e dar uma maturidade definitiva ao ser moçambicano que passa a temas de exaltação da pátria, recém independente, cultos aos heróis da luta pela libertação nacional, temas doutrinários e militares. É importante lembrar que o novo governo também tentou controlar o que era publicado, sendo totalmente livre desta censura apenas os textos publicados fora do país.



Um poeta/jornalista moçambicano merece destaque em todo este processo de autoconhecimento e de libertação é José Craverinha, sobre o qual podemos analisar uma sequência de fases em suas obras. A primeira é marcada pelo neo-realismo e traz como tema a tradição popular e tribal, o ser humano é mostrado cheio de problemas e complicações, acontece o privilegio da mensagem sobre a forma, pois o objetivo do autor e conscientizar o leitor do seu real estado de vida.

A segunda é marcada pela negritude, a forma muda, os versos tornam-se longos e o texto enaltece o negro, as raízes africanas neles estão presente os sentimentos mais puros do autor, a revolta contra a escravidão em denuncias feitas de forma bastante agressivas. A terceira fase do artista traz a moçambicanidade, a identidade nacional do seu povo, nela a busca pelo que é de verdade o ser moçambicano, suas raízes, seus desejos e seu futuro de liberdade estão misturados de tal forma que aos lê-los se sente a força e a garra do homem de Moçambique.

Na quarta e ultima fase, escrita em parte na prisão acontece o paradoxo de ter como tema a libertação, são desta fase os livros chigubo (1964), karingana ua karingana (1974), Cela 1(1980) entre outros.

 

Conclusão

Alem dos países descritos neste trabalho, no continente africano também falam a língua portuguesa: Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial e São Tomé e Princípe.



A literatura africana, como um conjunto de obras literárias que traduzem uma certa africanidade, toma esta designação porque a África é o motivo da sua mensagem ao mundo, porque os processos técnicos da sua escrita se erguem contra o modismo europeu e europeizante. John chamou-a de literatura Neo-africana por ser escrita em línguas europeias e para diferenciá-la da literatura oral produzida em língua africana. Nesta literatura, o centro do universo deixa de ser o homem europeu e passa a ser o homem africano.

É necessário frisar que este tipo de literatura, chamada literatura africana de expressão portuguesa, ganha uma nova especialização, tomando a designação de literatura de raiz africana. Esta literatura teve a sua origem através do confronto, da rebelião literária, linguística e ideológica, da tomada de consciência revolucionária a partir da década de 40 (século XIX). Importa referir que era uma literatura dirigida particularmente aos africanos e escrita em línguas locais em mistura com o "português", pois o propósito era tornar a escrita inacessível aos europeus, isto é, não permitir ao homem branco descodificar as suas mensagens. Daí a introdução nas obras de poetas angolanos (Agostinho Neto, António Jacinto, Pinto de Andrade, Luandino Vieira, etc.) de palavras e frase idiomáticas em quimbundo e umbundo, e em muitos outros autores africanos como Mutimati Bernabé João (Moçambicano).

Esta fase vai de meados da década de 40 até às independências (meados da década de 70). A vida verdadeira de Domingo Chavierde Luandino Vieira e Sagrada esperançade Agostinho Neto são textos impregnados de marcas visíveis da revolta política que mais se traduzem nos quatros cantos do mundo.

A literatura africana combate o exotismo sob todas as formas, quer se apresente recuperando narrativas tradicionais, quer utilize ritmos significantes emprestados das culturas populares.

Caminhos da Negritude na Poesia Moçambicana

 

 “Não será uma reivindicação de valores? A negritude não será uma revisão dos conceitos do Belo, a reabilitação de parâmetros culturais e cultuais, a crítica a tabus de rejeição, uma legítima defesa contra os padrões reacionários da superioridade pela tonalidade da pele, textura do cabelo, forma do nariz, lábios finos ou espessos? (...) Uma teoria da negritude através da literatura ou das artes plásticas, afinal, ofende a quem?”

José Craveirinha (1985)

 

Vários pesquisadores encaram a Negritude e as polêmicas geradas em torno dela como uma espécie de período preparatório para a formação das literaturas nacionais africanas. Apoiada em várias leituras que aprofundam o tema, procurarei demonstrar as relações entre as propostas da Negritude (tomada em seu sentido lato, como evolução da consciência negra, e também em sentido estrito) e a poesia moçambicana nos anos 50 a 70 do século XX.

Nos anos quarenta e cinqüenta do século XX, ao partir para a descoberta de si próprios, os poetas da África de língua portuguesa vão lançar mão de vários “paradigmas” para melhor definirem a sua identidade, dos quais destacamos: Zumbi (líder da República dos Palmares, no Brasil), Toussaint Louverture (precursor da independência do Haiti), Langston Hughes e Guillén, citados por Viriato da Cruz no poema “Mamã negra”; Ngola Kiluanji e a Rainha Ginga (heróis de resistência ao colonialismo), citados em “Ao içar da bandeira”, de Agostinho Neto); anônimos depositários da cultura tradicional (como o desconhecido irmão maconde do poema “Se me quiseres conhecer”, de Noémia de Sousa), as vítimas da violência racista (Willie McGee, citado por Francisco José Tenreiro no poema “Coração em África”), escritores, músicos, boxeurs, atletas da diáspora americana, em suma, figuras que representavam o orgulho negro de todo o  mundo.

Nesse período de afirmação, que precede a luta de libertação nacional, o intelectual africano era guiado por uma postura de adesão à condição do homem negro e seu mundo mental tinha por base os traços comuns das culturas africanas. Essa postura fraterna antecedeu a viragem decisiva para o aprofundamento na cultura nacional e a eclosão da luta armada. No período de afirmação “os homens de cultura africana [falavam] mais de cultura africana do que de cultura nacional” e a literatura se propunha como “literatura de negros” ou do “mundo negro”.

Os autores do Renascimento Negro, da Harlem Renaissance representaram um estímulo para o indigenismo haitiano, para os estudantes antilhanos reunidos em torno da revista Légitime Défense e para os poetas que iriam expressar o projeto da négritude. Os ecos de Langston Hughes, Countee Cullen e Richard Wright (romancista) também iriam chegar aos poetas da África de língua portuguesa.

Acompanhemos o trajeto teórico e histórico da “questão negra” para depois situá-la em Moçambique.

Seguindo-se à proposta da “personalidade africana” (african personality, 1893) em congresso de Freetown, em 1900, H. Sylvester Williams, advogado de Trinidad, organizou a primeira conferência pan-africana, a fim de suscitar um movimento de solidariedade a favor dos negros colonizados. Participante do evento, um homem que há mais de meio século militava pelo pan-africanismo, o Dr. W. E. Burghardt Du Bois, negro americano, declarava: "Naturalmente, a África é a minha pátria." Em 1897, no decorrer do Congresso de Londres, Du Bois já afirmava: "Se o Negro devesse um dia desempenhar um lugar na história do mundo, seria graças a um movimento pan-negro."

Por sua vez, Marcus Garvey, jamaicano truculento que considerava a pele do mestiço Du Bois demasiado pálida para um negro, no quadro da Associação Universal para a Promoção dos Negros lançou a palavra de ordem de "regresso à África". Garvey devotou-se febrilmente à criação de organismos que concretizassem a idéia à qual se dedicara profundamente: um império racial africano, de que se proclamava presidente provisório, um Parlamento Negro, uma Liga Marítima da Estrela Negra. E imaginou um Paraíso em que os anjos eram negros e os demônios, brancos. Não hesitou em colaborar com os racistas do Ku Klux Klan, que como ele, mas por razões inversas, preconizavam que os Negros americanos fossem mandados para a África. A vida tempestuosa de Garvey foi marcada pela prisão e acabou obscuramente em Londres, em 1900.

O Manifesto do Movimento do Niágara, em 1905, proclamou a "igualdade absoluta entre todos os cidadãos brancos e negros", sintetizando as preocupações de Du Bois e de seu grupo. Aquele, que fundara, por seu lado, a Associação Nacional para a Promoção das Gentes de Cor (base do "Black Renaissance"), tornava-se a viga mestra dos congressos pan-africanos que se realizaram sucessivamente em Paris em 1919, em Londres e Bruxelas em 1921, em Londres Lisboa em 1923 (em Portugal, desde 1912, fundara-se a "Junta de Defesa dos Direitos de África”), em Nova Iorque, em 1927. De início, marcadamente racial, a idéia pan-negrista tornava-se uma reivindicação política. Isso se confirmou, sobretudo, depois da segunda guerra mundial, no Congresso Pan-Africano de Manchester, presidido por Du Bois, em que era nítida ainda a predominância dos anglófonos. Pela primeira vez, porém, contrabalançava os próprios Africanos a influência dos Negros americanos. Os temas anti-imperialismo e anticolonialismo eram discutidos e, pela primeira vez, explicitamente reivindicada a independência nacional, tudo isto no quadro de uma opção socialista ou socialista-marxista.

W.E.B. Du Bois (nascido em 1863 e considerado o pai do pan-africanismo contemporâneo), doutor em Filosofia e historiador cujos trabalhos revelaram aos companheiros negros um passado africano do qual se deviam orgulhar, destacou-se como voz de protesto contra a política imperialista na África, em favor das independências, e exerceu influência considerável sobre personalidades como Asikiwe Nandi, futuro presidente da Nigéria, Kwame N‘ Krumah, primeiro presidente da República de Gana (para quem o pan-africanismo foi uma das idéias-força) e Jomo Kenyatta, primeiro presidente da República do Quênia. Du Bois exerceu também profunda ascendência sobre escritores negros americanos. Seu livro Almas Negras (1903) tornou-se modelo para os intelectuais do movimento do Renascimento Negro (entre 1920 e 1940). Reagindo contra os estereótipos e preconceitos que circulavam a respeito do negro, o movimento glorificava a sua cor. Defendia a origem africana, o direito ao emprego, ao amor, à igualdade, ao respeito e propugnava ainda pela assunção da cultura. Esse programa foi revelado na revista The Nation, de 23 de junho de 1926, sendo considerado a declaração de independência do artista negro: 

 

O humanista Jean Price-Mars, haitiano, notabilizou-se à época como o Pai do pan-africanismo cultural. Diplomata, historiador, sociólogo e doutor em medicina, inimigo ferrenho da assimilação e defensor das contribuições das culturas negras para a civilização mundial, foi um dos grandes inspiradores de Léopold Sedar Senghor. Na literatura, o romance Batouala (1921), do martiniquenho René Maran, propunha-se como um libelo contra a colonização francesa na África.

Nos Estados Unidos, a música negra - o jazz, os blues e spirituals - e a produção dos escritores negros chamavam a atenção geral para a cultura e a causa que defendiam. Langston Hughes (nascido em 1902, de pai branco e mãe negra), representante do Harlem Renaissance  e amigo pessoal de Léon Damas e de Senghor, foi um dos mais expressivos poetas negro-americanos e transportou para a poesia os ritmos e a cadência da música de seu povo, notadamente o blues. "O Negro Fala Sobre Rios" (The Negro Speaks of Rivers) é provavelmente o seu poema mais famoso. Nesse texto, considera a história das comunidades negras desde o Oriente bíblico e a África até a diáspora na América. Afirmando “Eu também sou América”, Hughes assume-se como filho da África: “Todos os tantãs do mato batem no meu sangue. Todas as luas selvagens e ferventes do mato brilham na minha alma”. 

Outros passos importantes para o que se chamaria mais tarde o movimento da Negritude foram a revista Légitime Défensee e La Revue du Monde Noir (“Revista do mundo negro”, 1931-32, seis números), que antecederam o jornal L'Etudiant Noir.

A Négritude propriamente dita nasceu, portanto, de um protesto intelectual de negros de formação cultural européia que tomavam consciência da diferença e da inferiorização que os europeus impunham aos descendentes da África.

Foi Aimé Césaire que, no seu Cahier d'un retour au pays natal, em 1939, empregou o termo “negritude” pela primeira vez e assim a definia: "la conscience d'être noir, simple reconnaissance d'un fait qui implique acceptation, prise en charge de son destin de noir, de son histoire, de sa culture; elle est affirmation d'une indentité, d'une solidarité, d'une fidélité à un ensemble de valeurs noirs". (É simples reconhecimento do facto do nosso destino de negro da nossa história e cultura)

 

NEGRITUDE OU PAN-AFRUICANISMO CULTURAL

A atmosfera de contestação dos impérios coloniais de luta pela independência política e económica transita para o campo estético-literário que se torna nessa altura arma ideológica de forte impacto, actuando com sucesso sobre a opinião pública internacional. Neste ambito aprece a negritude.

E a Aime Cesaire e aos compatriotas Leopold Senghor e Leon Dames que vai dever a materialização deste conceito.

 

Conceito histórico de Negritude

 Movimento cultural de afirmação com expressão nas letras e ciências humanas convista a criação de um Nacionalismo Africano. Ela surge quando o homem negro toma cosciência da sua condição de inferiorizado por uma imposição do homem branco. A Negritude é o Pana-fricanismo nos valores culturais, tal como dira Senghor a Negritude é um conjunto de valores da civilização do mundo negro.                 

Segundo Senghor este movimento tem três fases evolutivas:

  • Redescoberta da história, cultura e diaspora negra no mundo. Tomada de consciência de existência de valores culturais a serem revalorizados.
  • Reabilitação do passado. A denúncia da traição etnográfica ocidental que vai da desumanização progressiva à violência, corrupção e barbariedade protagonizadas pela burguesia.

3- Adopção de novas formas de valores culturais. A recusa de assimilação dos modelos externos pela história negro-africana. Criação de um modelo próprio distanciado dos motivos históricos das literaturas europeias

 

Desde a expressão artística até a necessidade de aniquilação do sistema colonial: “O tom exaltado que as discussões sobre a Negritude atingem é produto da indissolubilidade dos aspectos políticos, culturais e ideológicos de que ela é fato e factor _ para empregar a terminologia de Amílcar Cabral”.

Inicialmente combatida pela ala mais conservadora do mundo negro, a “negritude” passou, posteriormente, a ser combatida pela sua ala mais radical.

O conceito de cultura distancia-se, pois, do paradigma estético ocidental e emerge de formas culturais não-canônicas produzidas no ato da sobrevivência social: “Reconstituir o discurso da diferença cultural exige não apenas uma mudança de conteúdos e símbolos culturais [...]. Isto demanda uma visão radical da temporalidade social na qual histórias emergentes possam ser escritas; demanda também a rearticulação do "signo" no qual se possam inscrever identidades culturais.

Os porta-vozes da Negritude nos anos 30, Aimé Césaire, Léon Gontran Damas e Léopold Sédar Senghor, manifestavam o desejo de revitalizar no plano teórico e conceitual a herança cultural africana fundada na valorização da pureza racial ou étnica, motivo maior da crítica ferrenha de Stanislas Adotevi. Também a generalização da problemática negra pelos teóricos e artistas da Negritude incomodava Franz Fanon, assim como Amílcar Cabral, que argumentavam com as diferenças existentes entre os problemas enfrentados pelos negros norte-americanos e pelos negros africanos, pois que as culturas (como a história) se desenvolvem de modo desigual, seja dentro de uma mesma sociedade, raça ou continente. Cabral defendia haver várias áfricas e, portanto, várias culturas africanas.

É no campo cindido entre a necessária solidariedade política e a improvável identidade cultural que se coloca, portanto, o centro da discussão sobre a Negritude. Propondo uma solução conciliadora, Kabengele Munanga afirma:

Na história da humanidade, os negros são os últimos a serem escravizados e colonizados. E todos, no continente como na diáspora, são vítimas do racismo branco. Ao nível emocional, essa situação comum é um fator de unidade. Portanto, cada grupo de negros deve adaptar-se e reajustar o conteúdo de sua NEGRITUDE, respeitando sua especificidade social, econômica, política e racial. A de um cubano, brasileiro, sul-africano e americano não devem ser reduzidas a um denominador comum, apesar da solidariedade. Esta não-redução não impede a troca de experiências entre as vítimas e a comparação entre os estudiosos.

De um modo geral, a “Negritude”, movimento oriundo de concepções tão amplamente discutidas, foi se dissolvendo em facções que se opunham ou se friccionavam. No que toca às negritudes africana e brasileira, também se construíram correntes doutrinais, culturais e estéticas não inteiramente devedoras dos modelos fundacionais, fossem eles anglófonos ou francófonos.

Pelo exposto, Pires Laranjeira, com mais de duas décadas de pesquisas dedicados à Negritude africana de língua portuguesa, destaca, no contexto de complexidade polémica que envolve o conceito de “negritude”, a polissemia interpretativa que desencadeou desde sua nascença, assim como a leitura oblíqua, desprovida do acesso às fontes primárias, que é feita dos seus pressupostos. Sabemos hoje que o jornal L'Etudiant Noir, por exemplo, peça capital da instauração da negritude na França, não chegou a ser lido no original pelos autores de língua portuguesa que se debruçavam sobre a cultura negro-africana, embora fosse por eles referido. Posicionando-se “contra a corrente de pensamento dominante” que defendia que a Negritude de língua portuguesa não teria existido _ opinião de Mário António Fernandes de Oliveira retomada por Salvato Trigo _, a seguir a apresentarei uma selecção de textos de apoio para a leitura de uma “poesia da negritude” manifestada, sobretudo, entre 1949 e 1959, buscando demonstrar que a Negritude francófona (dos anos 30) foi assimilada, dando origem a uma Negritude lusófona que testemunha a convivência do Sócio-Realismo africano com o racismo anti-racista (Sartre) pan-africano e globalizante, e a sua inevitável ultrapassagem nacionalista.

Ressaltando a obliteração ou a má-avaliação de textos teóricos programáticos e informativos, Laranjeira redescobre, recupera e reabilita documentos que iluminam a importância da negritude _ definida como “construção de uma idéia da literatura negra”_ na fase de emergência de novas literaturas de língua portuguesa. O tópico e os textos-testemunho correlatos que Pires Laranjeira apresenta (de Mário Pinto de Andrade, Francisco José Tenreiro, José Craveirinha, Agostinho Neto, Alda Espírito Santo, entre outros) permitem reexaminar o pensamento literário africano de língua portuguesa dos anos 50, década decisiva para a emergência das afronacionalidades.

 

 

Proveniência da Negritude lusófona

Para o estudioso, a Negritude lusófona deriva da Negritude francófona, movimento que ganhou expressão a partir da publicação do jornal L’Étudiant Noir, por então estudantes da Sorbonne. O termo foi usado pela primeira vez por Césaire, no seu poema “Cahier d’um retour au pays natal” (1939) e, mais tarde, em livro prefaciado por Breton (1947). A Negritude significa a expressão, sobretudo poética, do “ser negro” , exaltando as tradições africanas ancestrais, valorizando o modo negro de estar no mundo (Senghor) e o posicionamento anti-colonial e anti-imperialista (Césaire).

Francisco José Tenreiro incorporou à sua Ilha de Nome Santo (1942) um universo africano de ressonâncias dramáticas e, com Mário de Andrade, lançou em 1953 o caderno Poesia negra de expressão portuguesa.

Como bem o assinala Manuel Ferreira, “na prática, no terreno real dos textos, sobretudo poéticos, vamos encontrar autores vários cuja mensagem é a da Negritude (...): Marcelo Veiga, Francisco José Tenreiro, Alda Espírito Santo, Marcelino dos Santos, José Craveirinha, Noémia de Sousa, Virgílio de Lemos, Manuel Lima, Agostinho Neto, Alexandre Dáskalos. Poetas que investem o seu verbo na revelação e valorização dos autênticos segmentos da cultura africana encarada num processo dinâmico.” Não há a configuração de um movimento, mas uma tendência revelada na poética de alguns autores africanos de língua portuguesa.

Com os movimentos de libertação das nações africanas e a participação dessas nações no conjunto das forças do Terceiro Mundo, o conceito de “negritude (também o de pan-africanismo e o de Renascimento Negro, concebidos a partir da diáspora e com caráter simbólico) ganhou um novo combustível dialético e novos relevos, consequentes do processo da luta contra o colonialismo.

Durante a Segunda Guerra e depois dela, o movimento da “negritude” ganhou uma dimensão política, aproximando-se da proposta essencial do pan-africanismo. Na atmosfera internacional da guerra, um esforço esmagador foi exigido dos colonizados para salvar uma civilização em chamas. A crise despertou no homem negro um desejo de afirmação cada vez maior. E, ultrapassando os limites da literatura, a negritude passou a animar a ação política e a luta pela independência. A criação poética era então um ato político, contra a ordem colonial, o imperialismo e o racismo. O filósofo africano Kwame Appiah ressalva que ideologias como o pan-africanismo e a negritude defendiam e (re)significavam a identidade africana.

Manuel dos Santos Lima resume, no texto “Humanismo africano e humanismo ocidental”, apresentado no Congresso L'Umanesimo Latino e l'Umanesimo Africano ocorrido na Praia, República de Cabo Verde:

De forma geral, a independência criou, por parte de uma nova elite política e intelectual, a necessidade da elaboração das identidades africanas dentro do Continente, e deste perante o mundo. Para isso, era imprescindível retornar ao passado em busca de elementos legitimadores da nova realidade e encontrar heróis fundadores e feitos maravilhosos dos novos países africanos e da própria África.

Em Moçambique, a partir de 1945 (até 1964, aproximadamente) começaram a revelar-se os poetas que compõem o “segundo paradigma ou segunda fase” da literatura moçambicana (o primeiro preparou o terreno para essa “poética da moçambicanidade”), designação utilizada por Carmen Tindó Ribeiro Secco, que lhes ressalta uma produção que

Recebe fortes influências do Neo-Realismo, do Renascimento Negro e do Movimento da Negritude, fazendo a apologia da solidariedade, denunciando o racismo, o colonialismo, a exploração nas minas da áfrica do Sul”; muitos poetas preferem cantar a terra e a natureza, metáforas da “moçambicanidade”, ou o negro, exaltando o orgulho da cor

Para Patrick Chabal

Embora nas colônias africanas portuguesas a negritude nunca tenha tomado a forma amplificada e exaltada que assumiu no império francês, houve um processo semelhante, mesmo que não tenha havido ‘influência direta’. A negritude é, dessa forma, a mais explícita e manifesta fase de nacionalismo cultural que se pode encontrar na literatura africana moderna.

Com base nessas óticas, Orlando Mendes e Noémia de Sousa são considerados “pioneiros da moderna poesia moçambicana”. O primeiro, mergulha sua poética na “seiva elementar/De África nos versos que digo/ E os homens saibam cantar”. No caso de Noémia de Sousa, toda a sua produção (dezenas de poemas produzidos entre 1949 e 1952 encontram-se dispersos pela imprensa moçambicana) alimenta-se das raízes africanas, é “África da cabeça aos pés”: “Eu quero conhecer-te melhor, /minha África profunda e imortal”; “Ó minha África misteriosa e natural, /minha virgem violentada, /Minha Mãe! Destaca Maria Nazareth Soares Fonseca que a “consciência de uma negritude, ainda que sem os particularismos do movimento criado por Aimé Césaire e Léopold Senghor, na França, atravessa os versos da poeta moçambicana”. Filha de mãe negra, Noémia transfere essa maternidade para a África como um todo, elegendo a pele africana como o seu sinal: no poema “Negra”, o corpo feminino, diverso mas sintetizado numa única palavra, MÃE, acaba por representar o corpo do continente africano; no poema “Sangue negro”, também estabelecendo a homologia entre “minha África” e “minha Mãe”, o eu lírico assume o seu sangue negro-escravo e a sua origem:

 

Em poema antológico, “Deixa passar o meu povo” (que dialoga com o spiritual Let my people go, que tematiza o cativeiro de Moisés e do seu povo no Egito dos faraós), explicita-se a relação da poética de Noémia com os pressupostos do Harlem Renaissance:

José Craveirinha considera Noémia “o primeiro poeta verdadeiramente moçambicano no alto sentido da sua poesia e pelo nascimento”. E acrescenta: “Noémia de Sousa foi quem soltou o primeiro canto da tragédia nocturna dos negros que trabalham na remoção dos dejectos da população dos subúrbios: os zampunganas. (...) só nós, os africanos das ruas de areia (...) só nós conhecemos a profundidade do soluço do zampungana”.

Noémia, cantora dos esquecidos, voz fraterna (“Nossa voz”), vai dar voz aos párias da África, vai exaltar a (es)cultura popular (“pau preto que um desconhecido irmão maconde talhou”), fundando o seu canto em sintonia cultural e política com movimentos que envolviam a causa negra em outras partes do mundo: o Renascimento Negro americano, o Negrismo cubano de Nicolas Guillén (dele é a epígrafe da antologia Poesia negra de expressão portuguesa, 1953, em que Noémia colaborou), o Regionalismo brasileiro de Jorge Amado, o Neo-Realismo português.

Objectivos da  Negraitude (Projecto Renascentista)

  • Formação da consciência africana sua história e seu passado miseravel.
  • Reconquista dos valores da cultura negra africana negadas pelos europeus.
  • Retorno as origens- paraiso perdido.
  • Contestação contra o colonialismo.
  • Denúncias da exploração e abusos do colonialismo
  • Exibição do movimento estético- literário africano.
  • Emergência de uma nova literatura em termos temáticos e estilisticos
  • Formação do nacionalismo africano

Aspectos Negativos

  • A forte comutação racial, conduziu o movimento a um racismo antiracista.
  • A Negação da ciência e da técnica europeias agravou o atrazo do continente negro em relação ao resto do mundo.

 

 

Caracteristicas temáticas

  • Exaltação da natureza africana.
  • Exaltação dos valores culturais africanos -romantismo africano.
  • Representação de Africa como simbolo de Mãe.
  • Negação da civilização e da técnica europeia pela afirmação da civilização tecnica tradicional
  • Criação de um modelo próprio- tradicional.
  • Retorno as origens

Características literárias

  • Evocação e valorização de África como Mãe-  Paraiso perdido.
  • Exaltação da beleza africana, no centro a mulher e o musculo do homem.
  • Exaltação da arte africana. A razão e helénica e a emoção é negra-  Senghor.
  • Exaltação e evocação da natureza de áfrica.
  • Denúncia da colonização desde a cultural, mentalidade à soberania.
  • Nos discursos há frequência de versos longos de tipo recitativo.
  • Forte exploração da ironia na expressão.

 

A negritude vai receber do Modernismo brasileiro o desejo de conhecer as raizes e o valor cultural, apoiados na língua do colonizador adoptando-a em sua linguagem natural.

-Receberá ainda do neo-realismo a sua dimensão temática que é a focalização do grupo oprimido. E a Missão do poeta no meio do povo oprimido é leva-lo a tomar consciência da sua situação.

As literaturas africanas vão receber da Negritude o desejo de conhecer as raízes e o valor cultural do pan-africanismo a luta pela libertação da pátria - nacionalismo.

Do modernismo brasileiro o regionalismo. Apoiados na língua do colonizador adoptam-na em sua linguagem natural.

Do neo-realismon receberá a sua dimensão temática que é a focalização do grupo oprimido. E a Missão do poeta no meio do povo oprimido é leva-lo a tomar consciência da sua situação.

Texte

                                                                       
Leonel Leonardo Dengo
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121411161415Aprovado

26/01/2010

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